Nos Duzentos anos da Faculdade de Medicina do Porto

Nos Duzentos anos da Faculdade de Medicina do Porto

Celebra a nobre Escola a sua idade.

ao atingir o duplo centenário

duma existência de celebridade,

assente, para além do imaginário,

na sabedoria e na estatura

mental dos Mestres que são relicário

imaterial, tanto de bravura

quanto duma sábia e grande mestria,

a par de dedicação na procura

de algo de que se necessitaria,

formar médicos e fazer ciência

porque era muito pouco o que existia.

A Faculdade é, na sua essência

e dignidade, os seus professores,

os de ontem, com clara evidência

e os de hoje, como os seus sucessores.

Ela nunca poderá esquecer

quanto deve, pelos grandes favores

do apoio que veio a receber

prá sua inicial instalação

e que foi decisivo acontecer,

à esplendorosa instituição

desta cidade, a Misericórdia!

Sem ser fácil a coabitação,

chegou-se sempre a pactos de concórdia:

foi o Hospital de Santo António,

grande parte do tempo sem discórdia,

casa da Faculdade, património

de memória brilhante e honrosa

deste Hospital, sempre vetusto e idóneo.

A Faculdade entra em fase ditosa

ao transferir-se para o S. João

que não deixou de ser muito custosa

para o Santo António que, então,

tem nos médicos a capacidade

de valer à grave situação,

revelando grande tenacidade,

num esforço heroico, por notável.

Hernâni Monteiro, com a validade

académica, de todo admirável,

da sua personalidade singular,

se deu, com lucidez, à desejável

obra do S. João se edificar:

O Hospital Escolar de São João!

Escolar, pois nele se vai ensinar

Medicina, ainda com a intenção

da Faculdade o poder dirigir

por seus professores na direção

central e em cada Serviço. E vir,

a ter como suas, instalações

numas áreas que vai possuir,

ligadas a certas ocupações:

ensino pré-clínico e alunos,

museu, biblioteca e direções

dos Conselhos, exigentes e unos.

Fatos perturbaram a paz total,

ao longo do tempo, mui importunos;

cada entidade tem umbilical

ligação oficial diferente

a um ministério governamental!

Porém é necessário que se intente

viver em perfeita simbiose,

com atuação sempre inteligente:

ter planos e opções sempre em constante osmose

não pra entrópica paralisação,

mas que cada uma atue em grande dose

de progresso e intercomunicação,

pra um serviço luminoso ao País.

Faculdade e Hospital de São João,

têm a estruturante matriz

dum só corpo com único genoma,

mas cada um, qual órgão, com diretriz

própria e a que uma honra se soma

e lhes dá funções universitárias.

Isso a Hernâni Monteiro assoma

nas suas conceções imaginárias

fruto de um saber de muito ter visto,

por vezes claramente plagiárias,

quando lhe mereciam o registo

de boas soluções a aplicar.

Agora, acabado de dizer isto,

ante o que vejo, tenho de confessar

que uma séria reflexão se impõe,

havendo coisas a terem de mudar:

voltar ao valor inicial se propõe,

o que habitou Hernâni Monteiro

que em vida à obra nada antepõe,

entre os professores um belo obreiro!

Ele viveu a Universidade,

pelo atuar, elevando-a a um cimeiro,

patamar, com grande exemplaridade,

em prol da ciência e da assistência,

num viver de paz e felicidade.

Com ele o bom trilho da eficiência!

Que o brilho do serviço prestimoso

de criar médicos com competência

prossiga, como um feito sempre honroso,

lembrando os nossos antecessores.

Neste aniversário da Faculdade

sintamo-nos a Eles mui devedores!

Levi Guerra

Vila Nova de Gaia, 24 de junho de 2025