Vítor Neves Lopes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e médico cirurgião da ULS, foi o protagonista da Conferência CAC Porto do mês de julho, dedicada à “Simulação no Ensino da Cirurgia”. O evento decorreu no âmbito das comemorações do bicentenário da FMUP.

Na Aula Magna, estiveram presentes, entre outros, o diretor da FMUP, Altamiro da Costa Pereira, o subdiretor da FMUP, Francisco Cruz, a presidente do Conselho de Administração da ULS São João, Maria João Baptista, a diretora do Centro Pluridisciplinar de Simulação (SIMFUP), Cristina Granja, o professor da FMUP e primeiro diretor do Centro de Simulação da FMUP, João Bernardes, bem como diretores, estudantes, profissionais e investigadores das duas instituições.

O conferencista começou por dar uma perspetiva geral da evolução dos modelos de ensino da cirurgia, dos desafios e das oportunidades, que considera “gigantescas”.  Como explicou, o ensino da cirurgia tem evoluído desde Hipócrates, com o modelo Halsted, no século XX, a representar um marco importante.

Baseado na relação mestre-aprendiz, este modelo levanta, contudo, questões e desafios, como sejam os contextos sociais e económicos, o tempo para ensinar, as restrições geográficas e as características dos novos mestres e dos novos aprendizes, que tendem a ser, cada vez mais, “nativos digitais”, pelo que os modelos baseados em competências são, hoje, o “padrão-ouro” do ensino.

A simulação surge como “um adjuvante” na formação em cirurgia, permitindo a aquisição de competências e a “aceleração das curvas de aprendizagem”. Modelos cadavéricos, manequins, consolas de realidade virtual são exemplos apontados. Em seu entender, “não há uns melhores do que outros”, mas modelos mais apropriados para determinada finalidade do que outros.

Recordando um estudo em que a maior parte dos internos de cirurgia geral nunca tinha usado um simulador para a realização de uma cirurgia antes de a fazer num doente pela primeira vez, o professor da FMUP salientou a necessidade de um investimento elevado, reconhecendo o empenho desta Faculdade nesta área.

Na prática, disse, a implementação da simulação cirúrgica tem também como desafios a evidência de “retorno” (custo-eficácia), a padronização dos currículos e a avaliação. Neste ponto, referiu a importância de ter em conta aspetos como a “validade”, “fidelidade”, a “sustentabilidade”, o “feedback”, a “ansiedade e a resistência de profissionais” e o “apoio institucional”, mas também de continuar a fazer investigação, designadamente sobre segurança, custo-eficácia e certificação.

Vítor Neves Lopes tem realizado estudos sobre desenvolvimento e validação de simuladores para o ensino da técnica cirúrgica, incluindo simuladores de baixo custo, modelos de ensino com realidade aumentada (telestração) no ensino à distância e ensino baseados em vídeos, não existindo inferioridade em comparação com modelos tradicionais.
Quanto ao futuro, considera que será cheio de “oportunidades” para o desenvolvimento de simuladores, integração de tecnologias e revisão de currículos. “É o currículo que importa, não o simulador. O currículo é o mais importante”, afirmou.

No final da Conferência, foram vários os responsáveis que usaram da palavra. Maria João Baptista considerou que a simulação é “crítica para preparar os profissionais”. João Bernardes salientou a evolução da simulação desde que começou a trabalhar nessa área, evolução que é visível, desde logo, nos prémios recebidos. Com um gesto para a plateia, saudou os estudantes de Medicina da FMUP que venceram a SimUniversity Competition 2025, a maior competição internacional de simulação clínica.

Finalmente, António Sarmento, como um dos principais mentores das Conferências CAC Porto, falou em “esperança” e “entusiasmo”, lembrando apenas a importância do contacto com o doente e do treino da gestão das emoções. O evento não terminaria sem uma salva de palmas a este professor da FMUP pela atribuição da Medalha de Mérito Municipal da Câmara do Porto, ocorrida no dia 9 de julho.