A FMUP é a minha casa

A FMUP é a minha casa

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto celebra 200 anos de existência. Para muitos, é uma das grandes escolas médicas do país. Para mim, é mais do que isso: é a minha casa, o lugar onde me formei, onde cresci como profissional, e onde continuo a ensinar e a aprender.

Entrei na FMUP como estudante em 1989. Licenciei-me em 1995, e voltei anos mais tarde, já com outros olhos, para frequentar estudos avançados e concluir o meu doutoramento. Em diferentes fases da vida, a Faculdade foi sempre um ponto de regresso, uma referência segura no caminho, um espaço que me desafiava, mas também me reconhecia. Hoje, como professor, continuo a viver esse mesmo vínculo, agora do outro lado da sala, com a consciência de que ensinar Medicina é, também, uma forma de cuidar.

A FMUP não foi apenas a instituição onde obtive o meu diploma. Foi a escola que moldou o meu modo de pensar, de decidir, de observar e de escutar. Ensinou-me que ser médico não é aplicar fórmulas, mas interpretar contextos, integrar conhecimento, assumir responsabilidade. Que não se trata apenas de dominar uma ciência, mas de desenvolver um juízo clínico e um sentido ético. Foi aqui que aprendi a ver o doente não apenas como um caso, mas como uma pessoa.

Essa marca profunda, que ultrapassa os conteúdos curriculares, é talvez o que melhor define o papel da Faculdade: formar médicos com saber, mas também com consciência. Essa é uma característica fundamental da FMUP nestes dois séculos: um modelo de exigência e de rigor, aliado a uma cultura de humanismo e de serviço. E é essa herança que me orgulha transmitir às novas gerações.

Mas a FMUP é mais do que um espaço de formação. É também um padrão, uma medida de exigência à qual continuo a referir-me, na docência, na investigação e na assistência clínica. Representa um modo de estar, de questionar, de querer fazer melhor. Para mim, é um símbolo: um lugar de pertença, de identidade, de responsabilidade partilhada.

Neste bicentenário, a celebração ultrapassa a simples evocação do passado. É também um momento para renovar compromissos. Porque precisamos, hoje mais do que nunca, de uma medicina que saiba integrar conhecimento técnico com sensibilidade humana; de profissionais que pensem com rigor e cuidem com empatia. E de escolas que inspirem, desafiem e preparem esses profissionais para um futuro em constante mudança.

A FMUP ensinou-me tudo isso, e continua a ensinar-me pela escuta dos colegas, dos alunos, dos doentes. É uma escola viva, que honra a sua história sem deixar de olhar em frente. E que continua, dois séculos depois, a formar não apenas médicos, mas cidadãos atentos e profissionais comprometidos.

Ser alumni da FMUP é, para mim, mais do que uma linha no currículo. É um traço da minha identidade. Uma responsabilidade permanente. E, acima de tudo, um orgulho sereno: o de pertencer a uma escola que, ao ensinar, continua a cuidar.

Paulo Santos (Professor Associado da FMUP)