Rui Vieira Nery, musicólogo de referência em Portugal, deu uma “Aula Aberta” na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, no dia 28 de maio, convidado pela Unidade Curricular (UC) Optativa de Medicina e Música – Para Além da Arte do Mestrado Integrado em Medicina (MIMED).

Nesta iniciativa, que se inscreve nas comemorações do Bicentenário da FMUP, o professor universitário percorreu nove séculos da História do nosso país, “ilustrando-os” com uma “sucessão de flashes sonoros” e de “imagens musicais” dos diferentes períodos.

O convidado apresentou vários exemplos de músicas que marcaram determinadas épocas em Portugal, do “canto chão” religioso e erudito e das cantigas trovadorescas profanas (as “cantigas de amor”), monofónicas, até à polifonia secular e multimédia dos Autos, da Lírica de Camões.

Ao longo dos séculos, como explicou Rui Vieira Nery, a música foi servindo propósitos e pensamentos distintos, desde a liturgia ao entretenimento das cortes e palácios, com o patrocínio do Estado ou da Igreja, até à criação de um mercado internacional de compositores e músicos bem formados que dão espetáculos e cobram bilhetes.

A música composta e interpretada por profissionais bem pagos e com uma formação europeia convive com uma música de raiz popular; as orquestras, a ópera e a produção cosmopolita convivem com os traços da identidade nacional. O mercado da música em Portugal é, contudo, mais frágil e mais pobre do que noutros países.

Para o convidado, nas últimas décadas, “o ensino da música melhorou muito e há um número impressionante de jovens compositores com excelente formação e com muito talento a despontar”. Esta é uma “idade de ouro da formação”, em que “todas as estéticas convivem” e em que os músicos fazem questão de ter “um diálogo com o público em geral, não especializado. É desta mistura que nasce a diversidade da música”.

Rui Vieira Nery nasceu em Lisboa, em 1957, e estudou na Academia de Música de Santa Cecília e no Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciado em História pela Universidade do Lisboa, doutorou-se em Musicologia pela Universidade do Texas. Ocupou cargos de relevo, como presidente da Comissão Científica da Candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. É sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.